O FIM SECRETO DE TODAS AS COISAS
Alexandra Ungern, Amaryllis Norcia, Arlette Kalaigian, Cláudio Souza, Corina Ishikura, Denise Homsi, Dolly Michailovska, Esther Casanova, Francisco Aurélio Pereira, Heloisa Lodder, Juliana Baumann, Renata Soubhia, Rodrigo Isioka, Rosana Pagura e Rosana Spagnuolo
Curadoria Paulo Gallina
Abertura: 24/09
Período expositivo: 27/09 à 22/10/2022
O fim secreto de todas as coisas é uma exposição que relaciona estética e memória. Se a morte é inescapável à humanidade, o esquecimento não será seu legado. Existem mais formas de se rememorar do que na lembrança [não raro emocional] dos eventos que marcam nossas vidas. As imagens carregam memória, inclusive a memória de um futuro que pode vir a ser, a esperança da superação da mesquinhes de nossa miséria de nossa condição [humana]. Este é o caráter redentor ou sublimador da arte que os antigos [não os gregos da antiguidade, mas os ideólogos da revolução burguesa que inicia o tempo presente em seu estado mais bruto] insinuavam: a redenção através da beleza.
É preciso ter a clareza, entretanto que a sublimação pela beleza e pela esperança pode ser enganosa também. O esforço para lembrar, em alguma medida revela uma vontade de esquecer [quem sabe inconsciente]. Esta exposição, assim, apela para nossa vontade de lidar com as tantas potências não exploradas durante o recolhimento que foi a pandemia, um luto em alguma medida, para que encontremos novamente algum sentido no sublime e no inefável em tempos sombrios.
Arlette Kalaigian, Corina Ishikura, Denise Homsi, Esther Casanova, Juliana Baumann, Renata Soubhia, Rosana Pagura e Rosana Spagnuolo mostram ao público como os despropositado gesto de viver se traveste, entre a gravura e a pintura, em imagens que ora representam o mundo de maneira realista, ora surrealista e, ainda, ora de maneira abstrata. Na pintura dessas artistas encontraremos as fendas da perdição de pensamentos inconstantes e incertos e a salvação da escolha e eleição dos significados retratados como espelho daquilo que se quer para si e para o mundo. A pintura, assim, parece apoiar-se na vaidade de cada sopro para impelir seus observadores a encontrar na imagem e em sua conduta alguma qualidade de paz por sua presença na tempestade dos tempos que vivemos.
Alexandra Ungern, Amaryllis Norcia, Claudio Souza, Dolly Michailovska, Francisco Aurélio, Heloisa Lodder e Rodrigo Isioka por sua vez esforçam-se em reiterar a dureza do mundo, da matéria das pedras através da poiesis de suas pesquisas plásticas. A matéria dura, nessas pesquisas, encarna a delicadeza das memórias brutas de experiências passados, de esquecimentos furtuitos para nos relembrar que “há uma luz, em algum lugar/ pode não ser muita luz,/ mas ela supera a escuridão”. Ou, em outras palavras, que apesar do luto pelas possibilidades que nunca chegarão a ser, há força na presença, na escolha e na construção do mundo vindouro. Talvez ele [i. e. o mundo] não chegue a ser em nosso [breve] período de vida, mas certamente, ele virá. E qual o legado que deixaremos para os filhos dos filhos dos filhos de nossos filhos? A miséria de um deserto devastado pelo sol e pela poluição ou a esperança de qualquer coisa melhor que isso?
Este é o fim secreto de todas as coisas, a perda do significado, ainda que a memória fugidia persista. A transformação em estética o que foi uma exploração ética na forma de história, narrativa ou experiencia de vida. É, com sorte, por conta desta qualidade de transformação que se pode afirmar: “a estética é um braço da ética”; sem medo de despedaçar uma teoria capaz de abranger o todo de nossa humanidade. E você? Que outro segredo consegue encontrar além de uma mirada mais gentil sobre o luto como está colocado?
Paulo Gallina