Dar a Ver pelo encontro
Nancy Jones | Fernanda Preto | Camila Roriz | Martha Simões
Curadoria
Coletivo Agata
SERIA POSSÍVEL FALAR DE UMA ARTE ESSENCIALMENTE FEMININA OU MESMO DE UM ESTILO UTERINO?
Linda Nochlin, perpassa esses questionamentos em Por que não houve grandes mulheres artistas?, artigo escrito em 1971 e só traduzido para o português neste ano. Para ela, não são as qualidades consideradas femininas que fazem com que mulheres artistas pertençam ao mesmo grupo, já que “em todas as instâncias, mulheres artistas e escritoras parecem estar mais perto de outros artistas e escritores de seu próprio período e perspectiva do que delas mesmas”.
Com essa afirmação ela localiza a produção artística e suas interlocuções dentro de um espaço/tempo, ou seja, como uma decorrência das condições materiais e históricas do contexto em que ela se insere, eliminando a possibilidade de uma prática pautada pelo sexo. Se apenas o fato de ser mulher não é suficiente para determinar unicidade aos trabalhos aqui apresentados, reunir quatro artistas em uma mostra coletiva ganha, portanto, contornos políticos e vontade de estarem juntas.
Foi por isso que a americana Nancy Jones se uniu há outras artistas que também tem como ponto de partida de seus trabalhos a investigação da imagem. Ao expor pela primeira vez no Brasil, ela mostra objetos que trazem para a discussão o que seria o ideal feminino marcado pelos ícones da cultura de massa.
Fernanda Preto em Estudos de Nu II apresenta corpos reais, mas que pela busca de uma perfeição estética, seja por meio de cirurgias plásticas, ou tratamentos em photoshop, tornam-se desumanizados. Já Camila Roriz traz a costura e a colagem para o vídeo, sobrepondo e duplicando imagens e ruídos que também incindem sobre o próprio corpo. Por fim, Martha Simões colhe frames do seu cotidiano, que são resignificados em novas imagens e composições.
A proposta aqui é se atentar para as tensões provocadas quando esses trabalhos são colocados em diálogo e para os questionamentos que só podem saltar por esse encontro. Que corpos são esses tão vulneráveis? Existe um esgotamento no trato com a imagem? Estar juntas é a maneira de revindicar mais protagonismo feminino nos espaços destinados à arte? Além de tudo aquilo que um olhar atento pode provocar.
Coletivo Ágata