[Dis]tropicos
Adrian Luke, César Meneghetti, Giancarlo Latorraca e Jê Américo
Curadoria
Clarice Mester
UM CONVITE À REFLEXÃO SOBRE A PLENA OCUPAÇÃO DA CIDADE, A EXPOSIÇÃO [DIS]TRÓPICOS SE PROPÕE A TRANSPOR AS BARREIRAS FÍSICAS E SIMBÓLICAS QUE DESENHAM SÃO PAULO.
Em mídias distintas, as obras investigam os desafios e as potencialidades do espaço urbano que nos acolhe.
[DIS]TRÓPICOS, neologismo criado para abarcar a realidade e as perspectivas de um cenário ora empobrecido e injusto, uma latitude de urgência.
SOBRE A MOSTRA
Na exposição [DIS]TRÓPICOS os artistas Adrian Luke, César Meneghetti, Giancarlo Latorraca e Jê Américo dialogam com o público sobre as complexas configurações da vida na metrópole e problematizam as potencialidades e desafios do espaço urbano: fotografia, vídeo, desenho e escultura constroem então, juntas e separadamente, narrativas consonantes a esta pulsante capital.
Robert Park, nos coloca que a cidade é “a tentativa mais bem-sucedida do homem de reconstruir o mundo em que vive o mais próximo de seu desejo. Mas, se a cidade é o mundo que o homem criou, doravante ela é o mundo onde ele está condenado a viver.” E uma proporção cada vez maior de nossas vidas é gasta em espaços anônimos na cidade, em “non-places” – como designa Marc Augé – o que provoca uma profunda alteração de consciência e alienação, algo que é percebido de forma parcial e incoerente. Por fim, no é trabalho de David Harvey, que encontramos a premissa que mais inspira os artistas: “O direito à cidade como principal dos direitos humanos”.
Nossos museus e galerias são repletos de construções idealizadas, à mercê do olhar estrangeiro e da obrigação do ser exótico. Educados neste imaginário, e longe da premissa de “direito à cidade”, nos perdemos na deterioração do espaço urbano e na desumanização da população, que convive em mundos paralelos na sexta maior cidade do mundo.
SOBRE OS ARTISTAS
ADRIAN LUKE (Sidney, 1986) nos propõe uma visão outra da cidade de São Paulo. Através do seu olhar destacado ele transforma quase irreconhecíveis certos lugares do seu quotidiano, às vezes muito populares na cidade. Uma viagem de ônibus marginal do rio Pinheiros, a Av. Paulista, a Av. Angélica ou Consolação se transformam através da sua fotografia uma elegia ao tempo que se foi. Ele joga com longos tempos de exposição criando um blur onde paralisa um tempo criando uma ruptura do real em quadros abstratos que nos transmitem grande carga emotiva.
CÉSAR MENEGHETTI, artista visual e cineasta paulistano estudou e viveu em Londres, Roma e Berlim. Depois de 27 anos de trabalho no exterior volta a São Paulo. O seu trabalho conceitual, pictórico, fotográfico e audiovisual é, desde o final dos anos 90, caracterizado por um profundo interesse em questões sociais e um constante indagar sobre as formas de linguagem. Suas obras e filmes fazem parte do acervo de várias coleções públicas e privadas, sendo exibidos em mais de 40 países obtendo reconhecimento da critica e mídia internacional: Biennale di Venezia (2013, 2011, 2005), X Bienal de Sharjah, XVI Bienal de Cerveira,VI Biennale Adriatica, Museo MAXXI (2015, 2016, 2017), MIS – SP (2010), MLAC, GNMAN, MACRO – Roma (1999, 2009), Hit Gallery (Bratislava), UTMT Gallery e Rosalux (Berlim), Smiths e Whitechapel Gallery, IIC (Londres), MIS, Paço das Artes, MAB, MUBA, FUNARTE (São Paulo) Festival di Locarno 51 e 55 (Cinéastes du présent), Festival di Venezia 66 e 69 (Giornata degli Autori), Festival del Nuevo Cine de Habana, X Festival “E’ tudo verdade”, Transmediale 01, File 2002, Loop Barcelona 2011, Currents Santa Fé Museum, Videoformes, Videobrasil (2001, 2003, 2007), etc. Prêmio FUNARTE de arte contemporânea 2011, Prêmio Brasil arte contemporânea 2010 (Bienal de São Paulo) Prêmio na IV Bienal Interamericana de Videoarte (Washington), Nastro d’argento 1996, 2004, 2009 (SNCCI) e Prêmio Petrobrás Cultural 2002 e 2006. Meneghetti é um dos 22 artistas contemporâneos analisados no volume “Arte Iperconteporanea” e “MLAC Index” (2012) de Simonetta Lux. É também um dos 99 artistas presentes na antologia “Made in Brasil – 30 anos de vídeo brasileiro”, organizado por Arlindo Machado. Sobre seus filmes e vídeos lhe foram dedicados teses acadêmicas e quatro retrospectivas: CINEVÍDEO: CÉSAR MENEGHETTI E NELSON PEREIRA DOS SANTOS, Instituto Itaú Cultural – SP e MG (2003), LA VIDEOARTE DI CÉSAR MENEGHETTI no Festival Corto per Scelta (2007) e FLUX+DISPLACEMENT+TIME retrospectiva dos trabalhos audiovisuais de César Meneghetti, 48a Mostra Internacional do Novo Cinema de Pesaro, Itália (2012), MAXXI ARTAPES #03 Video di artista in Italia (2017) Invisibili (Museu casa Romei), F4/Fare comunità (Fondazione Fabbri), Inside Brazil (Bologna) em 2017.
GIANCARLO LATORRACA é arquiteto formado pela FAU-USP e professor licenciado da Escola da Cidade, da qual é associado. Colaborou com Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha e com o escritório Brasil Arquitetura. Trabalhou no Instituto Lina Bo e P.M. Bardi de 1993 a 2001, desenvolvendo projetos editoriais e de exposições nacionais e internacionais. Realizou inúmeros projetos expográficos em sociedade com o escritório Apiacás Arquitetos (2001-2010) e atualmente é Diretor Técnico do Museu da Casa Brasileira em São Paulo, onde realizou entre outras, a mostra Maneiras de expor: arquitetura expositiva de Lina Bo Bardi, prêmio APCA-2014, Categoria “Fronteiras da arquitetura”, modalidade “Arquitetura e Urbanismo”. Sua prática com desenho e pintura perpassa as atividades descritas acima, tendo apresentado seus trabalhos em coletivas na própria faculdade e mostras off Bienal. Destaca-se sua participação na exposição de inauguração do MUBE em que realizou pintura de out door com a temática sobre o rio Tietê, e apresentou série de desenhos feitos na própria marginal. Realiza desde 2005 os desenhos em giz que retratam a paisagem paulistana nos restaurantes Ritz da cidade, além de diversos painéis com essa temática em casas particulares e espaços públicos como Escola da rede FDE, feito em parceria com o escritório Apiacás Arquitetos. Dedica-se a desenhar a paisagem de são Paulo em suas diversas faces. Realizou atividade didática de desenho nos cursos de arquitetura da Universidade Católica de Santos (Unisantos) e Escola da Cidade, em parceria com Paulo Von Poser.
JÊ AMÉRICO é arquiteto formado pela FAU-USP e desenvolve projetos de arquitetura, mobiliário e gerenciamento de obras. Na segunda metade da década de 70, inicia carreira de desenhista técnico em escritórios de arquitetura, época pré-informática, quando os desenhos eram elaborados com canetas nanquins, esquadros e régua paralela. Esta praxis fez com que em 2008, desenvolvesse uma série de mapas a partir do contorno da América do Sul. Nesses trabalhos, surgem inevitavelmente a influência das técnicas realizadas no inicio da sua carreira de arquiteto, o uso das linhas, que serão uma marca importante nos trabalhos posteriores. Aliado a estudos sobre Lógica, Matemática, Física e Filosofia da Ciência, e a práticas de meditação Zen Budista, ele desenvolve a seguir uma profícua e abundante produção artística. A questão da materialidade da realidade, explorada nas esculturas de Jesus Soto, e a geometria difusa de Mark Rothko, são também referências visuais fundamentais. A ausência de linhas de contorno tornam as formas inefáveis, ora surgindo como adensamentos do campo em que se encontram imersas, ora pela vibração de cores intensas, que como partículas subatômicas, permitem diferentes camadas de leitura, cada vez mais profundas, de sua composição.