Enquanto canto, nunca parede

Enquanto canto, nunca parede
março 24, 2023 zweiarts

ENQUANTO CANTO, NUNCA PAREDE

Tchelo

Texto de Isabel Villalba e Alexandra Ungern

Abertura: 18/03
Período expositivo: 21/03 à 20/04/2023

“Você sabe melhor do que ninguém sábio Kublai,
que jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve.
Contudo, existe uma ligação entre eles.”
Italo Calvino 

Com alegria apresentamos a mostra individual do artista Tchelo nas salas do Ateliê Alê. Desde a idealização deste espaço, o artista tem sido nosso parceiro e colaborador para que este centro de artes continue a atender com sucesso artistas, curadores e o público interessado que o frequenta. A exposição contará também com a participação especial do artista convidado Luiz 83, que também apresenta obras inéditas.

Na poética de Tchelo existe um jogo divertido de palavras que nos confunde, envolvendo um certo tipo de adivinhação. A palavra “canto” pode ser a conjugação do verbo cantar, mas também pode ser uma junta, uma aresta, esquina ou ângulo. Alguém pode ser colocado em um canto, como “de lado”, afastado, excluído. Ou mesmo um lugar recluso e retirado: “quero ficar quieto no meu canto”. “Me olhou de canto de olho” – de lado, com desconfiança.

“Enquanto canto nunca parede” brinca com o sentido lúdico da frase-obra e estimula a associação na linguagem. O canto, que não é parede, canta à liberdade de trabalhar, inventar, deslocar os procedimentos e materiais para falar de si e da realidade do mundo que o rodeia. A linha do desenho, o carvão e o grafite atravessam as obras, Tchelo é um inventor de procedimentos, arranjos, desconstruções das coisas e das ideias.

De todas as formas, entramos na poética visual do artista onde o que se distingue em suas obras é o significado ambíguo das frases, dos desenhos lineares, das formas que nos remetem a algo familiar. Traduzidos com materiais simples e, com isso procurando uma objetividade, ele mesmo nos sugere ultrapassar a barreira desta aparente transparência, sugerindo uma interpretação inesperada que podemos associar a este jogo de palavras de “Enquanto canto, nunca parede”.

Voltando ao texto de Calvino, e, transladando-o para o contexto desta exposição, jamais se deve confundir a obra com o discurso que a descreve, pois ela não se esgota nas palavras. A palavra não consegue abraçar os sentidos extensos da obra, porém, nem por isso, a palavra perde o seu valor ao passo que opera uma mediação em seu sentido e compreensão. Existe uma ligação entre elas, a obra é mediada pela linguagem.

Por esta razão consideramos que a mostra de Tchelo é um convite a se deixar levar pela imaginação. Pois leva o espectador a uma armadilha, a uma cilada para os olhos e os pensamentos, onde desenhos e formas brincam com nossas mentes e nos levam a ouvir cantos com sonoridades diversas. Ora um ruído desconfortável, ora um canto tão suave que não se pode distinguir. Quase inaudível, beira o silêncio. Este é o jogo.

Isabel Villalba e Alexandra Ungern