Microterritórios
Cláudio Souza
Curadoria: Isabel Villalba e Alexandra Ungern
Abertura: 03/02 das 16h às 20h
Período expositivo: 03/02 à 02/03/2024
… Por tanto, na realidade a sua é uma viagem através da memória!…É para se desfazer de uma carga de nostalgia que você foi tão longe! (O Grande Khan ao Marco Polo).
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… Eu falo, falo – diz Marco, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja.
Cidades Invisíveis: Ítalo Calvino
Que lugar é este dos Microterritórios?
Esta pergunta lançada pelas obras de Cláudio Souza nos permite ensaiar algumas possíveis respostas ao observar a exposição no Alê Espaço de Arte. Traçando um percurso numa rápida e sucinta viagem ao passado da humanidade, algumas descobertas revelam-se potentes, tecendo concepções sobre a pesquisa artística de Cláudio.
Na infância, o microterritório do artista seria a pequena cidade do interior da Bahia, onde Cláudio nasceu e viveu até a adolescência. Naquele espaço, marcando o chão com um desenho, a criança adquire uma identidade e experiências que muitos anos depois viriam à tona em forma de poética artística. Ocorre uma fusão entre as lembranças de brincadeiras de criança e temas da atualidade nos vídeos e fotografias que o artista nos apresenta.
“Microterritórios simbolizam ciclos contínuos de invasão, ocupação e apropriação” C.S.
Nesta mostra individual Claudio expõe alguns debates contemporâneos importantes: a demarcação indevida de territórios e invasões de garimpeiros, nas terras pertencentes aos povos originários e com isso a ameaça da extinção de suas aldeias, terras e etnias. Guerras e conflitos entre países que resultam em tomadas de territórios a força bruta, causando imigrações e deslocamentos involuntários, perdas de vidas e extinção de culturas.
Desde os tempos das grandes navegações, o homem descobriu, invadiu e determinou territórios com o intuito de se apropriar e explorar as terras do novo mundo. Chegavam aos ouvidos dos conquistadores do velho mundo relatos de navegantes sobre estes novos continentes que agora se tornam motivo para dominação e poder. Assim, foram necessários instrumentos capazes de auxiliar na navegação das grandes caravelas por mares desconhecidos. A ciência da cartografia se desenvolveu graças a Ptolomeu (90-186 d.C.) e Mercator (1512-1594) que representavam o mundo por meio de desenhos, criando assim os primeiros mapas que se tornavam cada vez mais precisos.
A curiosidade e a imaginação despertaram o desejo de conhecimento por novos territórios e com isso a exploração do planeta à procura de outros mundos. Quando nos referimos ao território ou microterritórios, vem em nosso auxílio a ciência da geografia, que interessa a pesquisadores contemporâneos. Estes desenvolveram o conceito de imaginação geográfica: “A sensibilidade em relação a importância do lugar, do espaço e da paisagem na formação e conduta da vida social (..) que permite aos indivíduos reconhecer a função do espaço e do lugar em sua própria vida, em relação com os espaços que vê ao seu redor “(Johnston, Gregory & Smith, 2000).
A imaginação como território privilegiado da arte, se combina com o racional na construção do conhecimento, ao lado da poesia e a literatura. Mundos reais e imaginários são descritos por escritores e poetas. Da mesma forma, utilizando instrumentos simples e encontrados na natureza como um graveto, pena ou lápis, Cláudio executa desenhos, assim como os primeiros cartógrafos, estetizando seus microterritórios, uma e outra vez. A geografia e os elementos do espaço trabalhado se modificam e o artista se desloca de um lugar ao outro explorando esses novos espaços e se apropriando de uma parte deles por alguns minutos. Condensa dentro de cada vídeo ou imagem fotográfica um imaginário que intensifica e se fortifica com sua sensibilidade a temas atuais de propriedade, ocupação e apropriação de terras e países, que atravessa e questiona seu tempo.
Isabel Villalba e Alexandra Ungern
REFERÊNCIAS
Liliana López Levi
Universidad Autónoma Metropolitana. Xochimilco, MX
Perla Zusman
CONICET – Instituto de Geografía, Universidad de Buenos Aires (Argentina).