CO YBY ORÉ RETAMA – Essa Terra é o Nosso Lugar

CO YBY ORÉ RETAMA – Essa Terra é o Nosso Lugar
setembro 2, 2021 zweiarts

CO YBY ORÉ RETAMA – Essa Terra é o Nosso Lugar

Andrey Guaianá Zignnatto

Curadoria
Sandra Ará Reté Benites

Abertura: 21/08
Período Expositivo: de 21/08 à 17/09/2021

Andrey Guaianá Zignnatto é herdeiro de avós indígenas das aldeias de Inhampuambaçu que foram silenciados pela cidade colonial de São Paulo de Piratininga, local posteriormente dominada por tijolos e concretos de casas e edifícios que hoje ocupam quase todo o solo desta megalópole. Artista autodidata, professor de artes visuais e ativista de projetos sociais, o artista trabalhou como ajudante de pedreiro dos 10 aos 14 anos de idade, descendente de povos Tupinaky’ia e Gûarini. Estas memórias afetivas ancestrais são a base para o desenvolvimento conceitual e dos métodos usados na sua produção artística.
Na atual condição onde muitos territórios originalmente indígenas encontram-se cobertos por concreto, é difícil pensar na ideia de um lugar para fazer fogueira no contexto urbano, costume tradicional dos povos originários para formar o espaço educativo e transmitir conhecimentos ancestrais através da oralidade, dentre muitos outros de seus valores violados e enterrados nestes territórios. Por este razão, quando indígenas que tiveram seus universos culturais apagados decidem pelo processo de retomada de suas ancestralidades, apesar deste processo partir dos simbolismos, ele transcende meras questões simbólicas. A expressão de sentimento de pertencimento se constrói no campo das imagens, das narrativas, das memórias para um lugar de vida e espiritualidade.
Andrey Guaianá Zignnatto começa sua trajetória como artista apoiado em suas memórias da época em que trabalhou como pedreiro e nos conhecimentos adquiridos por esta profissão. Em seus trabalhos mais recentes, fica evidente o deslocamento do artista das questões sobre a construção civil para questões de sua ancestralidade indígena. É possível observar nos trabalhos apresentados na exposição elementos que demonstram o esforço do artista em reordenar seus pensamentos nesta trajetória, do contexto urbano para o contexto indígena, esforço este para equalizar as forças destes universos tão distintos. Neste sentido, é possível afirmar que o artista; como tantos outros artistas indígenas contemporâneos; encontrou na arte e suas potencias poéticas instrumentos que tem colaborado para imaginar e efetivar esta possível retomada, e reabitar o Tekoha (onde se
produzem modo ser coletivo), o lugar originalmente organizado e habitado por povos indígenas, espaço de produção de conhecimento para resguardar o direito ancestral.
É importante aqui também alertar para os riscos e cuidados necessários sobre as ainda constantes abordagens das questões dos povos indígenas a partir de perspectivas colonizadoras. Cuidados para não romantizar em demasia a ancestralidade como se o Brasil fosse “descoberto”, como se as populações indígenas de diversas etnias fossem “civilizadas” passivamente, e sobre tudo o que e quem define alguém como um indígena. Daí a importância dos indígenas que foram silenciados se colocarem em evidência, como também uma reação dos povos originários que sempre lutaram para resistir às invasões, e, no caso dos que escolhem os caminhos das artes, demonstrarem como a ficção também é um importante dispositivo nessas retomadas político-identitárias, à semelhança do que, como denunciava Oswald de Andrade, o foi/é para a colonialidade. Não se trata, portanto, de pensar o prefixo re necessariamente como um resgate ou um retorno a um ponto supostamente anterior à invasão colonial. Por isto é relevante pensar que o espaço expositivo e a produção de obra de arte indígena que não é qualquer lugar e obra.
A obra de um artista indígena é uma obra que vem da tentativa de tradução da luta indígena em pró do território físico e também do espaço subjetivo do pensamento. Essa obra ela é muito especial por conta disso, porque ela traduz esse movimento de resistência, de sobrevivência e de expansão nesses espaços. Ela não é apenas um simples objeto, mas o resultado de um saber ancestral e transcendental. Essa obra é uma tentativa de tradução de pensamentos e da criatividade de coletivos, que não devem ser vistas como apenas de um indivíduo, o artista. A importância do coletivo para o indivíduo e do indivíduo para o coletivo é essencial na arte indígena. Nunca estamos representados na arte apenas por um indivíduo. E essa obra criada pelos artistas indígenas aparece de uma forma que recoloca esse pensamento acerca do indivíduo dentro de um todo, e da relação deste individuo com esse todo. Não existe uma obra indígena sem esse encontro e esse conhecimento que é produzido pelo coletivo. A obra ela é materializada pelo indivíduo, mas o pensamento é um processo que ocorre no coletivo. Apesar da obra de Andrey falar do processo histórico de sua família, ela fala também por todos os demais indígenas que foram soterrados nas cidades por toneladas de concreto e indiferença.
É difícil encontrar nas palavras um meio para explicar tudo o que é único e especial, o que é transcendental, que está diretamente associado aos seres da terra. O corpo, os relacionamentos sociais, o bem estar, o bem viver é intimamente relacionado aos elementos do entorno, a própria sociedade, os elementos da terra mata e animais, os espíritos. Não é possível no pensamento indígena desassociar essas relações. E é na arte o meio que o indígena encontra uma forma de traduzir as complexidades destas relações.
É importante e necessário que os juruá (não indígenas) compreendam estes outros modos de pensamentos, como esses diversos olhares indígenas. A arte indígena é mais um alerta na tentativa de diálogo entre os povos indígenas e esses juruá, que lhes oferece outras formas de enxergar para além das enormes paredes de concreto e pisos de asfalto, e enxergar aquilo que nos une numa relação de respeito como humanos, e juntos o que nos une com o não-humano numa relação respeitosa também com os Ijá do Rio, Ijá da Mata, os guardiões , o espírito da terra, o espírito da floresta, o espírito das árvores. Estas são algumas reflexões que podem ser encontradas nas obras de Andrey Guaianá Zignnatto, que fazem parte da exposição CO YBY ORE RETAMA [Esta Terra é Nosso Lugar].
06 de julho de 2021
Sandra Ara Rete Benites

JAIKO JEVY, JAJAPO JEVY HÁ’E KUEPY
Andrey Guaiana Zignnatto má nhande kuery ramyminõ yma ramo ikuai va’ekuery Inhapuambaçu tekoa oin raka’e São Paulo já’eambyte re ayn ramo ita gui meme má opamba’e oin, ha’e má kyrin vy oiko axy raka’e va’eri ayn há’e nhombo’e va’e oiko, Guarani regua’i havi oiko tupinaky’i re oje’a i va’ekue. Va’eri há’e arandua oguereko va’e rupi meme Ju tembiapó oexauka
Ayn gui ita pa oiny yma ramo nhandeva’e Kuery ikuai raka’eague rupi ramo tetã re jaiko vy mamo rantu nhamoendy tataypy jaguapy aguã nhamombe’u aguã nhamdereko há’e opamba’ereko regua re, há’e va’e aepy nhende Kuery reko, ka’aru maramo jogueroguapy ayvu Porã omombe’u. Oiko pete’in Mby’a heta omomba rai’i va’ekue rembyre’i má ayn gui ojevy jogueravy ha’e yvy re joguero’a avi aguã.
Andrey Guaiana Zignnatto má nhande kuery ramyminõ yma ramo ikuai va’ekuery omboypy tembiapó Oiko pete’in Mby’a heta omomba rai’i va’ekue rembyre’i má ayn gui ojevy jogueravy ha’e yvy re joguero’a avi aguã Ayn gui ita pa oiny yma ramo nhandeva’e Kuery ikuai raka’eague rupi ramo tetã re jaiko vy mamo rantu nhamoendy tataypy jaguapy aguã nhamombe’u aguã nhamdereko há’e opamba’ereko regua re, há’e va’e aepy nhende Kuery reko, ka’aru maramo jogueroguapy ayvu Porã omombe’u. Oiko pete’in Mby’a heta omomba rai’i va’ekue rembyre’i má ayn gui ojevy jogueravy ha’e yvy re joguero’a avi aguã.
Nhande Iporã vaipa ramo katu há’evete tove katu anhete toimba Porã i katu opamba’eramo jepe koo yvy re nhandekuai porã, aguã rupi katu nhande kuery ramyminõ yma ramo ikuai va’ekuery regua há’e katu imbaraete aguã já’eambyte re ayn ramo ita gui meme má opamba’e oin, ha’e má kyrin vy oiko axy raka’e va’eri ayn há’e nhombo’e va’e oiko, Guarani regua’i havi oiko tupinaky’i re oje’a i va’ekue. Va’eri há’e arandua oguereko va’e rupi meme Ju tembiapó oexauka jaguapy aguã nhamombe’u aguã nhamdereko há’e opamba’ereko regua re, há’e va’e aepy nhende Kuery reko, ka’aru maramo jogueroguapy ayvu Porã omombe’u. Oiko pete’in Mby’a heta omomba rai’i va’ekue rembyre’i má ayn gui ojevy jogueravy ha’e yvy re joguero’a avi aguã.
Apy ma ore rojapo ojejoko aguã orea katy. Apy guima nda`eve vei ma amboekue oaxa aguã ore yvy ma Há`e rami ma, oiko ay gui, orevy o Kaninde pe iporãvea rami merami rojapo há`e va`e Indigena kuery ay gui ikuai va`ema, yma pyguare rami he`y… Yvy ojeporua voi amboae rami, yvy rupa omba`e rami ae oiporu oikoa`i rupi oi aguã yvy ranhe rã oipe`a oipe`e eravy nhandegui, ha`eguima oiporuxea rami rive tema ojapo ha`epy ikuai va`ere. Ijayua jave Brasil, vyma oexaã ramo yvy rive rami, nação rami he`y nhande rexa, vyma Brasil ma yvy oi rivea rami jaikuaa? Vy há`ema jajogueroa yvy re.
Yvyty manje ojoua rami omombe`u vyma oo Paraty peve ogueraa aguã há`egui navio pyju, há`erami onhemombe`u oiny. Tape puku ojeporu va`ekue apy ikuai aema va`e kuery, ojuka há`egui o escraviza pa mavy rive. Jaexa porã ramo há`e rami voi: yvy oi porãve aguã ambikuai hague rupi rive oi ovy. Apy ma nda`ikuai yvyre hekoa`i va`ekue anho`i he`y, ikuai avi jurua kuery oejaa rive tape rupi va`e kue voi, há`e rami ojejapo ovy já`e aguã rami rivema aema oi. Nhandero aguã yvy nda`eve vei ma, nhande jopy parei ma,
ambo`ekue reve nhande kuai aguã joupive`i pave voi. Yvy`ã, ka`aguy, yakã, ija va`e meme ikuai vy jepe ma, ay gui oiporua mba`emo ojou aguã rive etema. Andrey Guaianá Zignnatto ayvu rupi rive há’eva’e CO YBY ORE RETAMA [Esta Terra é Nosso Lugar] He’i va’e regua
Tradução para Guarani M’bya: Anthony Karaí Poty