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Romper da Carne
Thatiana Cardoso
Curadoria: Carol Mikoszewski
Abertura: 18 de Novembro das 16h às 20h
Período expositivo: 21/11 à 09/12/2023
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Faca, garfo, colher, bacia, cortador de ovo, desentupidor, funil, cesto para roupas, escova, esponja, coador, espremedor, ralador, escorredor, moedor, esta lista de utensílios domésticos poderia seguir ocupando muitas linhas deste texto e estes, poderiam fazer parte do cotidiano contemporâneo de modo quase inofensivo, cumprindo seus papéis de instrumentos de trabalho para “facilitar” a vida doméstica.
Quando Thatiana Cardoso começa a perceber o excesso desses objetos produzidos na cor rosa nas lojas populares e passa, além de colecionar tais objetos, a exercer sobre eles um olhar fotográfico, as semelhanças de seus volumes e superfícies com o corpo humano torna-se inequívoca. É, primeiro neste terreno da imagem que a artista estabelece um jogo em que a equivalência entre corpo e objeto se manifesta em sua produção.
Ao realizar o que podemos chamar de uma espécie de “taxonomia semântica” às avessas, seu método de cruzamento de atributos dos sentidos e qualidades materiais em vez de atuar para uma descrição das categorias dos objetos, as confunde, desloca, se valendo da fragmentação promovida pela ampliação e aproximação da imagem de natureza fotográfica para construir novas figurações deste objeto que é tornado corpo.
Em investigações sobre o potencial ilusório que os diferentes tipos de imagens e comunicações exercem no imaginário das mulheres, seus desenhos, fotografias, instalações, vídeos e performances explicitam seu caráter de violência simbólica.
E como nos diz Virginia Woolf: é extremamente mais difícil matar um fantasma que uma realidade. Em seu discurso Profissão para Mulheres proferido em 1931 nos conta que para escrever, tarefa que a princípio exigira apenas papel e caneta, precisava além disso, travar uma batalha com um certo fantasma O Anjo da Casa que costumava aparecer entre ela e o papel enquanto escrevia resenhas. Este Anjo seria o modelo de mulher pura, que nunca tinha ideia ou desejo próprio, daí que para poder escrever algo autêntico seria necessário matar o Anjo da Casa.
O processo de pesquisa e a produção de Thatiana Cardoso pode ser entendido como este terreno onde acontece e se explicita o embate com o Anjo da Casa e faz romper a carne desse fantasma.
Texto por Carol Mikoszewski