Trilogia do Trabalho Subalternizado
Período expositivo de 03 de agosto até 31 de agosto de 2024
Por uma arte de manutenção
A soberania do trabalho se alçou a tal patamar que faz crer que apenas ele atribui significado e valor à vida. Quando um anônimo é entrevistado em um programa jornalístico de televisão, as identificações que acompanham sua aparição no ar são nome e profissão: Fulano/a – advogado/a. Este aparente detalhe evidencia como a profissão se constitui como parte central na construção de uma identidade. Pessoas que não se estabelecem em uma profissão, ao não vender sua força de trabalho, são consideradas perdedoras, supérfluas, sendo preferível aceitar qualquer trabalho a não trabalhar. Questionar este mandamento universal do trabalho, portanto, é também interrogar aspectos tão amplos como o que é ser humano e o que significa desempenhar uma função social útiil.
Os vídeos que compõe o projeto Trilogia do Trabalho Subalternizado (Ascensorista, Recepcionista e Doméstica), além do Manifesto contra o Trabalho, trazem à luz a invisibilização e desvalorização daqueles que exercem funções subalternizadas enquanto evidencia que a exposição de obras de arte, por exemplo, não pode acontecer sem um trabalho permanente de manutenção e cuidado: de limpeza, de segurança, de atendimento (como visto em Recepcionista). Tais tipos de tarefas vistos nos vídeos, as atividades de cuidado, possui nítidos recortes de gênero (exercido principalmente por mulheres) e classe social (especialmente pela população de baixa renda). Sofrendo uma desvalorização tanto financeira quanto existencial, este tipo de atividade mantém o sistema opressor em pleno funcionamento, como constata a autora feminista Françoise Vergès (2019) ao afirmar que o trabalho de cuidado e limpeza é indispensável e necessário ao funcionamento do patriarcado e do capitalismo racial e neoliberal.
Adriana Granado